sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Estão te servindo refrigerante direitinho?"


O sol ainda estava no céu quando eu encontrei com meu avô esperando para atravessar a rua numa praça próxima à nossa casa. Ele parecia tranqüilo, como de fato sempre foi. Nunca vi meu avô estressado com nada, nunca mesmo. E foram 16 anos de convivência. E enquanto ainda esperávamos para atravessar, vi brotar um sorriso que nunca havia visto no rosto dele. Pelo menos não com tanta emoção, com tanta naturalidade. Ele olhava fixamente para o outro lado da rua. Quando olhei, vi minha avó, perto de uma árvore que encobria quem conversava com ela. Vi e não achei muito estranho. Fiquei na minha, ainda com o sorriso dele em minha frente. Depois de um pulo no tempo (pelo menos das cenas que me recordo), estávamos na porta do que parecia um salão de festas. Porta prateada, paredes amarelas e provavelmente balões enfeitando o local. O sol ainda estava no céu, presente, firme. Realmente fazia um dia bonito. Mas esse não era o melhor do dia. O melhor do dia ainda começou quando eu estava parado em frente à porta do salão e vi minha avó vindo em minha direção. Vinha serena, calma, risonha e mais desenvolta do que nunca. E toda vestida de preto, uma saia e uma blusa. Mas ela, tal como meu avô, estava com expressões e ânimo que nunca havia visto.

“Estão te servindo refrigerante direitinho?”, ela perguntou pra mim enquanto começou a me abraçar. Meu pai conversando com alguma mulher na parede ali perto, o sol ainda no céu, mas... nada disso importava. Eu estava ali, abraçando minha avó de um jeito que não podia fazer desde quando eu tinha 10 anos. Um abraço lindo, calmo, sereno, com ela. Um abraço para jamais esquecer.

Até que eu acordei. Acordei emocionado, choroso. Choroso de emoção. Agarrei  minha mãe, contei com o que havia sonhado e ficamos ali, abraçados. Mas ainda assim não era um abraço tão profundo e tão emocionado quanto o abraço que dei na minha avó. Quer dizer, que ela deu em mim. Na verdade, se eu tivesse dons, já teria feito um desenho para tentar ilustrar aquele momento. Tentar e definitivamente falhar. Foram poucos os momentos intraduzíveis da minha vida e aquele com certeza foi um deles

E esses foram os primeiros minutos de uma das manhãs em que passei um dos momentos mais difíceis da minha vida. E essa manhã era a seguinte do Dia das Avós de 2011. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tipo João e Maria

A um tempo atrás eu e minha querida mente nos deparamos tentando associar "João e Maria" com o dia a dia e papo vai, papo vem, percebi que nossa vida é igual ao trajeto que João e Maria fizeram para não perderem o caminho de sua casa. Para quem não sabe a história, eles vão traçando o caminho que passaram jogando pedaços de pão no chão, sem pensarem que os passarinhos comeriam tudo assim que passassem de lá.
Na vida estamos cheias de migalhas de pão espalhadas, a cada término de um ciclo uma migalha nova é jogada ao solo, para demarcar seu espaço na nossa linha do tempo das lembranças, mas assim que a deixamos lá elas vão sendo consumidas e vão sumindo, tomando um rumo que não pertence mais ao seu, talvez ainda exista algum persistente farelo que insistiu em ficar pelo caminho, mas que se torna tão difícil de ser encontrado que é muito mais vantajoso deixar que os passarinhos o achem e o levem também. E por mais que um dia você pense que essa migalha nunca sairá de lá, um dia você se depara com mais nada trilhando seu caminho naquele trecho, fazendo seu trajeto ser novo outra vez.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Pobre coração

Coração apaixonado é mesmo a coisa mais estúpida do universo. Afinal, consegue convencer a razão de que deve se tomar determinada atitude, ou por vezes apenas engana a mesma, agindo antes dela.
Insiste, persiste e não desiste.
Fica nessa luta constante, dando vida a diversos conflitos e debates internos, de tão determinado que é, consegue calar e confundir a sabedoria, e é nessas brechas decide agir.
Ágil, aproveitando cada mísero segundo, pois se demorar mais saberá que será barrado.
Se fosse uma corrida, com certeza ganharia, mesmo que por vezes se sinta na pior possuindo a vitória, daí que a razão diz que estava certa, diz que ele está arrependido.
O coração sempre rebate, dizendo que tem que tentar de todas as maneiras, pra ele, o que ele possui não pode ser armazenado eternamente como se fosse um baú fechado e que a chave foi jogado fora.
Ele diz saber que tudo seria muito melhor se isso que ele diz serem sentimentos fossem vividos e compartilhados, que se veria mais sentido na vida se conseguisse achar outro ser que obtivesse um coração que correspondesse aos mesmos sintomas que ele.
Esse tal de amor é paradoxal.
Por vezes pode ser o motivos das cores estarem tão bonitas e tudo no mundo fazer sentido ou então, faz adoecer, faz com que se pense que nada mais faz sentido na vida, por vezes leva até a morte
Pobre coração, faz tudo isso só pra tentar um dia achar a única peça do quebra-cabeças que consegue encaixar no seu e ainda pode sair ferido disso tudo.