O sol ainda estava no céu quando eu encontrei com meu avô esperando para atravessar a rua numa praça próxima à nossa casa. Ele parecia tranqüilo, como de fato sempre foi. Nunca vi meu avô estressado com nada, nunca mesmo. E foram 16 anos de convivência. E enquanto ainda esperávamos para atravessar, vi brotar um sorriso que nunca havia visto no rosto dele. Pelo menos não com tanta emoção, com tanta naturalidade. Ele olhava fixamente para o outro lado da rua. Quando olhei, vi minha avó, perto de uma árvore que encobria quem conversava com ela. Vi e não achei muito estranho. Fiquei na minha, ainda com o sorriso dele em minha frente. Depois de um pulo no tempo (pelo menos das cenas que me recordo), estávamos na porta do que parecia um salão de festas. Porta prateada, paredes amarelas e provavelmente balões enfeitando o local. O sol ainda estava no céu, presente, firme. Realmente fazia um dia bonito. Mas esse não era o melhor do dia. O melhor do dia ainda começou quando eu estava parado em frente à porta do salão e vi minha avó vindo em minha direção. Vinha serena, calma, risonha e mais desenvolta do que nunca. E toda vestida de preto, uma saia e uma blusa. Mas ela, tal como meu avô, estava com expressões e ânimo que nunca havia visto.
“Estão te servindo refrigerante direitinho?”, ela perguntou pra mim enquanto começou a me abraçar. Meu pai conversando com alguma mulher na parede ali perto, o sol ainda no céu, mas... nada disso importava. Eu estava ali, abraçando minha avó de um jeito que não podia fazer desde quando eu tinha 10 anos. Um abraço lindo, calmo, sereno, com ela. Um abraço para jamais esquecer.
Até que eu acordei. Acordei emocionado, choroso. Choroso de emoção. Agarrei minha mãe, contei com o que havia sonhado e ficamos ali, abraçados. Mas ainda assim não era um abraço tão profundo e tão emocionado quanto o abraço que dei na minha avó. Quer dizer, que ela deu em mim. Na verdade, se eu tivesse dons, já teria feito um desenho para tentar ilustrar aquele momento. Tentar e definitivamente falhar. Foram poucos os momentos intraduzíveis da minha vida e aquele com certeza foi um deles
E esses foram os primeiros minutos de uma das manhãs em que passei um dos momentos mais difíceis da minha vida. E essa manhã era a seguinte do Dia das Avós de 2011.